sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A cera, o fogo e o tempo

Calor do fogo, que derrete a cera do tempo
A cera em que me moldo e me refaço 
em cada momento
Calor do fogo e sua pressa em consumir
Em clarear, reacender e destruir

Calor do fogo, a minha prece

a te contemplar
sem te entender, busca somente imaginar
A sua história, perdida no tempo
Que em mim se molda e se refaz
a cada momento.

A dança

Enquanto o toque violento
Passeia o corpo viril
Borboletas dançam sem pressa
No voo mais ébrio de suas vidas
brincando
Pensando ser fadas e deusas e elfas
temendo metamorfoses

E o nosso tempo brinca

em passear no vento
Batendo as asas sem ritmo certo
E a nossa dança vibra
Pelo céu de todos os espaços
Criando novos sóis e luas
e todos os astros.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Santa Maria


É hora de contar os corpos, mais uma vez
Os mesmos rostos, mas hoje um novo lugar
Hora de olhar os olhos atônitos
A pele rasgada
Os restos de uma beleza roubada.
E em cada expressão, um livro de poucas memórias
Um atlas de sonhos deixados pra nunca mais.

É hora de ler nos jornais, mais uma vez

A mesma notícia, mas hoje tantas histórias
Hora de olhar e ver, sem cerimônias
Verdades inglórias
A vida como é.
E em cada nome e sobrenome
Um acordar do sonho
Um desvelar de um mundo decadente
Disfarçado por carnavais.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Enquanto o vento sopra
Refrescando a casa
Na tarde de verão mais quente 
da galáxia
Você estará presente
Como todo o sempre
Para todo o sempre
no orvalho de todas as rosas
Com seu bom dia
de madrugada
Seu boa noite
Em todas as manhãs
Em todos os sonhos
De todas as vidas que passaram por mim.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O desespero desses dias
Entornados de tanto você
Me captura
Me apavora
É você se tornando meu tudo e mais nada.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Hoje

Hoje eu resolvi mudar
E já é tarde
Mas quem sabe agora eu faça acontecer
Fingindo não doer
Fingindo sempre só, e ainda assim feliz.

Hoje de tanto pensar
Eu decidi calar
Guardar as minhas decisões, possíveis soluções
Ou apenas mais do mesmo, mais uma vez
Apenas mais do que há de sempre quando penso.

Hoje foi o dia
E à noite, você vai chegar
Vai me olhar, talvez me procurar
E ver apenas restos
Apenas superfícies...

Você vai chegar... vai me olhar
Talvez nem ver
Nem procurar
E encontrar, sem querer
Porque eu não vou saber atuar.
Porque eu nunca sei me esconder de você.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Busca

Vivo em busca da intersecção entre nossos mundos.
Chorando em esquinas, gritando o teu nome, espiando frestas de janelas.
Eu cato possíveis vestígios de ti pelos bares da vida.
Procuro trejeitos teus nos trejeitos de cada homem que conheço.

Mas eles não podem me conhecer como você conheceu.
Eles não sabem me tocar como você sempre tocou.
Suas bocas e mãos não trazem o quê das tuas
Não marcam meu corpo nem ferem meu juízo como você fez um dia.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Os anos passam diante do espelho
Machucam a memória
Maculam meu peito
Torturam minha carne deixando marcas.
Arranham meu corpo deixando rastros.

E esses rastros, errantes, estranhos
Quem é que vai querer segui-los?
Quem os desejará como destino?
Os ponteiros giram feito hélices
E o meu tempo me arrasta pelo asfalto
Meus pedaços pelas ruas que não vejo
Meu sangue forma um rastro que desconheço.

terça-feira, 30 de junho de 2009

A tua voz, que eu nunca ouço
Reverbera na memória como mantra
Que me incomoda, que me vicia
E que me guia nessa minha estrada errante.

As tuas coisas, os teus trejeitos
A tua alma mergulha em cada gesto
Presente em tudo, sem ser chamada
Em cada madrugada, dia, tarde ou noite.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Na Minha Cama

Na minha cama
Se estende o corpo - casa da alma que é minha irmã
E nesse corpo
Dormem os filhos do meu futuro, que vejo em seus olhos
E nesse sono
O inconsciente brinca com a minha imagem que não conheço
E nesses sonhos
Nossos desejos e os seus desejos que não são meus.

Na minha cama:
Corpo, alma, sono, sonhos
Você inteiro, minha metade
Que repousa quase inerte inconsciente.

Corpos, sexo, desejos, palavras
Duas metades, nós dois inteiros
Nessa cama que nos conta histórias
Nesse nosso livro de memórias.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A mil por hora

Se eu não tivesse atravessado sinais vermelhos
Desvios, cancelas
Se eu não tivesse corrido sem freios
A mil por hora na tua direção
Talvez agora não existisse, mais do que nunca
Na minha estrada
A tua imagem em todas as placas
Pessoas, luzes, outdoors.

Se eu não vivesse a testar meus limites
Por brincadeira ou por loucura
Se eu tivesse seguido mapas
Ou tido medo ou qualquer razão
Certamente eu não teria agora
Os teus trejeitos no pensamento
Fatalmente eu estaria agora
Seguindo a cem por hora pra lugar nenhum.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

São raros os ruídos desta tarde

Mas tantas as saudades e os delírios

E eu penso em tantas tardes vividas

E manhãs e noites e coisas sem sentido


Em tudo, sempre eu e a eterna busca

Por uma vida boba,

Por um sorriso tolo,

No espelho das vidraças de todas as ruas

De todas as esquinas do meu mundo.


Mas meu sorriso é um esboço de um desejo

E a minha vida é um filme em preto e branco

Minhas saudades são passados tão presentes

E o meu presente é um presente que eu não abro.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Teu universo particular

Teus pés furtivos, teu riso raro

Tua pele-seda, teu jeito calmo

Teus olhos que quase nunca me encontram

São teu universo particular

Que tanto me encanta

Como em contos de criança

Que cisma em me envenenar.


Esse teu delicioso veneno, tuas manhas

Tua presença, que é sempre ausência

O teu chamado no silêncio que berra

São teu universo particular

Que teima em doer

Que fere e de novo faz sangrar

Que me testa com prazer.


Ah esse teu universo particular...

Que me encanta e machuca

Que teima em se dar a mim

Pra que eu viva de amor, sofra de amor

Sangre de amor e fim.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Memórias


Teus traços se perdem na minha lembrança
Teu rosto criança que eu tento lembrar.
Teu choro contido no fundo dos olhos
me lança pra longe demais da rotina.

E eu quero voltar pro banal de toda vida
Não quero mais me deixar levar.

As tuas palavras, você entalha na minha memória
Me faz esperar e querer o que eu não posso.
E os teus passos leves, gatunos que me invadiram a casa,
me trazem histórias que eu não poderei escrever ou viver.

Eu quero sorrir pra você sem ter medo
Não ter que fingir que não quero te ter.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Meu céu, meu inferno

A tua fala, os teus olhos, trejeitos
Tua presença é um céu perfeito
Com anjos que dançam, luzes que ofuscam
Cânticos suaves e climas etéreos.

O teu mistério, silêncio, tua distância
Teu magnetismo é um inferno inteiro
Que arde sem pena, alucina e dá medo
Que me traz um desejo louco de bacante.

Você.

Você se mostra sombrio

E me põe de encontro à luz

Fere os meus olhos vampiros

Me tranca em meus próprios sonhos

Você me encara com fome

Nem teme a minha loucura

Você me sem pudores

Me mostra o que sempre escondo.


Você me cansa os dias

Sempre presente em minhas palavras

Me cansa os olhos

Sempre famintos por tua imagem.


Você é estranho acidente na minha estrada.

É salto no abismo sem cama elástica.

Você é ferida aberta que não seca

É a minha sede no Saara.

Desvios

Você me diz sem palavras

Sobre o que não faz sentido

E me pergunto, com medo

Se existe lógica no desejo...


Então decido estar longe

Escolho uma linha reta

Mas os meus doidos caminhos

Nunca encontraram estradas...


Acreditei haver trilhas

E sempre fui mata fechada

Sonhei com mapas, coordenadas

Mas vendavais me desviam.

Futuro do Pretérito

Beijaria-te como se tua saliva

Fosse minha única comida

E eu estivesse famintadias.


Amaria-te como animal

Como se eu me permitisse

Obedecer aos meus instintos.


Tocaria-te como se a tua pele

Fosse o tecido mais nobre que existe

E te abraçaria como se teu corpo inteiro

Fosse meu agasalho

Em meu inverno polar.


Eu rasgaria tuas roupas

Gritaria o teu nome

Choraria tua eterna ausência ...


... se você fosse possível,

se eu pudesse te dar vida,

se você fosse mais que uma idéia.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Delírio

Você me olha com a fome
de quem vive à míngua, à espera de esmolas
E me evita com o medo
de quem tem pesadelos e teme o uivo do vento
Mas quando se aproxima deixa rastro
Em minha cama, corpo, sono, sonho
Quando fica fraco se revela
Louco, livre, faminto, febril.

Eu te observo com a sede
de quem não aprendeu a viver no deserto
E me escondo sob o véu
de quem quer ver sem poder ser vista
Mas quando te sinto perco o tino
Esqueço pudores, pecados, presságios
Quando fico fraca me revelo
Mergulho, apaixono, abstraio, deliro.

domingo, 9 de novembro de 2008

Ébria

O vento cinza e morno desta manhã
Me traz teu cheiro de anjo caído
Me toca a pele, boca, cabelos, roupa
Desenha em mim teu rosto com cara de nada.

O gosto na minha boca e o meu corpo fraco
São a ressaca que você deixou como marca
Assinatura tua na mulher de ontem, embriagada
Tão doidamente ébria de você, e nunca saciada.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

On the road

Renuncio à velha tentativa de renúncia,
Descarto minhas novas asas,
tão antes sonhadas.
E então descanso os braços sobre minha estranha obra,
sento-me à margem do tabuleiro do jogo
que tudo é.
Lançam-se os dados, apenas sorrio
Tão calma, como quem se admite errante.

É longa a minha estrada e eu não temo
Conheço armadilhas de outras viagens
Eu vou subindo árvores, olhando as ondas
Tocando cicatrizes, lembrando dos corais
Sabendo que aquela mesma dor hoje é banal.

Espero o próximo trem, pra qualquer lugar
Sequer me aflige o quanto ele possa demorar
Distraem-me memórias, que despedaço agora
Só pra passar o tempo, porque já não me importa.

Penso

Penso sem querer pensar em empecilhos
Te penso possível, e assim eu creio.
Penso como se estivesse ali vivendo
Te vivendo, te tendo, tão te entendendo...
Penso teu silêncio, em nada mais que isso
Essas mil palavras nesses poucos gestos
Penso o corpo inteiro a me pensar sereno
A despejar-se ilimitado nas minhas manhãs.

Penso na boca em que mora o beijo
Penso em, sem relógio, descansar ali.
Ouço a voz sutil da mesma boca santa
Quase dentro de mim,
me despertando ilícita.
Sob o mesmo sol, agora diferente
O apenas nosso psicodélico poente
Eu penso...

A mesma mesa
A gente diferente
Bebendo nossos segredos
Tragando as tais palavras
Comemorando absurdos...
De corpo inteiro, de toda a alma que ele é.

Ondas de ressaca

Lançada em ondas de ressaca por teu mais breve silêncio
Prometo abandonar meus vícios, merecer o teu amparo
Pra ouvir de novo o teu louco falar sem respirar
Não ser antinatural ao encenar o tolo ensaiado.

Mas não renuncio ao querer sempre mais teu desespero
De correr em meu encontro pra dizer de teus loucos dias
Em busca de um porto seguro que se assegura em teu regaço
Que também te busca ofegante a cada pequeno instante ausente.

sábado, 25 de outubro de 2008

Mais que menina


O que eu soube de mim?
Um sorriso fingido
Uma porta trancada
Uma chave perdida
Eu não soube mais nada.

Da menina que eu sou:
Uma rosa sem pétalas
Um olhar sem destino
Meu espelho quebrado
Corpo tenso e cansado.

Houve um toque de mestre
De menino sabido
Que nunca teve a chave
Que sempre teve força
Que derrubou a porta.

Que me invadiu sem medo
Que me viu sem pudor
Tão mulher, tão crescida
Muito mais que uma menina
Nunca mais tão pequenina.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O tempo é nosso ditador
Nos limita, nos afasta
O tempo ameaça
Me torna alheia de ti.

Me resta o vício na tua boca
Tua palavra, ainda que pouca
O meu desejo tão consciente
Das nossas peles, do nosso sexo...

Da nossa intensa ausência de nexo
Em sermos o que somos
Em termos o que temos.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Admirável Velho Mundo

Minha cara de louca no espelho
Me traz o medo da madrugada
Eu que não durmo direito,
eu que não sonho mais nada.

Espero o azul do céu claro
Pintar minha cortina amarela
Esboço um sorriso safado
e corro pra abrir a janela...

Mas tudo permanece igual
ao ontem tão torpe e tão sujo
Ao sempre demente banal
Admirável velho mundo.

sábado, 18 de outubro de 2008

Cinza

Ando costurando pela vida
Sem saber
Sem querer saber onde ela dá
Dias me mastigam, me trituram, me digerem
Já que me recuso a engolir mais do seu mesmo.

Ando sendo levada pelas coisas
Perdendo o sono porque não sei mais sonhar
Hoje eu só vejo, toco, ouço, cheiro e engulo
Sem sentir o paladar, porque tudo é fugidio.

Todo substrato abstrato se esconde
No meio dos livros, teorias relativas
Toda poesia se traveste de cinza
Da concretude cinza da cidade e seu relógio.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sua

Esses dias confusos
Trazem novas histórias:
Teus trejeitos moleques
Minha cara pedinte...
O teu corpo inerte
Me apavora e me chama
e eu me assusto comigo:
pouco minha e tão sua.

Esses dias estranhos
Trazem loucas memórias:
Os seus olhos de susto
Minha boca com sede...
Tua expressão distante
Me aprecia e me instiga
Tua essência tão próxima
Me apaixona e sacia.

domingo, 12 de outubro de 2008

Você

Você, que faz do tempo um pássaro

Você Sol, de raios suaves pros olhos

Você que eu olho direto e encaro e me vejo

Você que veio em passos cuidadosos, sem barulho

Você que eu amo com pressa

Pra ter logo amanhãs e histórias nossas

Você que eu sinto fibra a fibra

Pra não perder nenhum dos mínimos detalhes

Você que eu vou decifrando

Você que vai me devorando

Você que vem me recriando

A gerações e gerações.

O Novo

Marco de vida nova:

As coisas tuas na minha casa

O teu descanso em minha poltrona

O teu abraço com asas nas esquinas de meu país.

Meu pedaço de mundo novo

Meu prenúncio pra um sonho não-inventado

Pra um velho sonho que tinha medo

Da chuva, do tédio, do cansaço.

Olhos novos, presente eterno

Nova casa, coisas nossas

Descanso duplo, de qualquer lugar

De um novo país, desse nosso novo mundo.

sábado, 11 de outubro de 2008

Cegueira

Céus-testemunhas me analisam, zombam de mim

Me julgam, e me absolvem por piedade

Pobre mortal de sóis, luas e ascendentes em conflito.


Seus azuis gelados me descobrem as armadilhas

As que preparo, onde caio, das que fujo

Falhas pequenas minhas que não vejo ou que finjo.


E eu
que me sei dura, estranha, às vezes louca

A secar memórias no sol leve de meu outono

Agradeço pelos meus limites, que não esqueço

Agradeço o fato de eles serem flutuantes.


E absolvida por ser franca e um pouco cega

Desvio o olhar de cínico pudor dos que me temem

Eu que só mato de mim o que me invalida

Eu que só quero parir verdades relativas.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Estampas

Minha roupa estampada

Minha cara pintada e mais magra

Todos os compromissos do ano

Toda falta de tempo

Todos os deveres

e os direitos que não conheço

Nada além no espelho

de profundo

Tudo e nada igual à menina de antes.


E o meu jeito audacioso

E a falta de medo estampada nos gestos

E também nas palavras e no seu tom aberto

Todas as verdades que eu finjo que invento

Meus recomeços que nunca começam

Nunca tão parecida

À sempre tão fugidia

À mesma menina de sempre

Ao sempre de todos os antes.

Eternidade

Prevejo impulsos irreversíveis

Indomináveis

Prevejo como se eu tivesse esse poder

Vidente

Te sinto, te choro, te odeio

E entendo

Que eu não poderia invadir o teu sentido

Ou te impedir

Ou te pedir

Ou te mandar.


Prevejo a minha inconsciência

E a minha decência em aceitar o teu melhor

Enquanto por dias, ou meses, ou anos

O "nós dois" faleça

Vá desfalecendo


Mas volto pra mim com a cara exausta

O suor no rosto

Traços de pavor

E morro de rir desse louco delírio

Porque sei de nós.

Dessa nossa eternidade.

Nova Babel

Paciente,

escuto a gritaria do teu silêncio

o desespero estranho de teus olhos fugidios

e toda a falta de motivo pr'esses gritos

Paciente ausência de motivos pra calá-los.


Chão e teto a buscarem-se loucos

A nos fecharem

E cada vez mais agudo o teu silêncio

Cada vez ainda mais gritantes esses olhos

E fugidias as nossas presenças.


Fingindo-me alheia a esse teu desespero

Espero e me ausento de ti

Neste mesmo recinto

Mas encaro esta fuga,

e encaro estes olhos


E ouvindo o silêncio

Eu crio o descompasso

Eu berro em nome do fim

Eu berro em nome da queda

E crio uma nova Babel.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Sentido?!


Dezenas de frases em contra-capas de velhos cadernos
Parecem clamar pra que eu as tome como verdades
Milhares de conclusões inevitáveis me enlouquecem
Relativizam qualquer axioma ou postulado.

E eu, que só quero um sentido pra esses dias absurdos
Tomo o absurdo como a lei irrevogável desses dias
A falta de sentido faz-se a descoberta mais solene
Faz tudo parecer um sonho, estranho de tão nítido.

Cores do sonho são criações minhas, filhas rebeldes
Que levam tais frases a se conformarem ofegantes
Que se tornam amantes do absurdo que as intensifica e alegra
Fazendo assim do mundo a própria descoberta
pra que eu feche os meus cadernos e ria de tudo.

Crianças em teus olhos

Tuas crianças, eu amo como filhos
Sem perigo iminente ou ameaça possível
Esses teus brinquedos sérios, segredos adultos
Esses teus risos descontrolados.

São teus olhos amigos
Que sem saber onde pousar
amansam ares.

Teus olhos lentos
Que sem se darem conta
erguem ondas.

Par de coisas tuas que amo
Tuas crianças que habitam olhares
Essa tua paranormalidade
Que se sabe louca, que brinca escondida
No fundo das íris de uniformes negros,
tuas professoras.

No Palco da Rotina

Presente inesperado:
cortinas abertas
Você espetáculo
bem na minha esquina

Seus olhos frágeis
quebrando ondas
Seu corpo leve
me dando banda

Eu subindo o palco
Me desdobrando
Eu me vendo insana
E nem assim crendo...